segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Uma Chef brasileira na China !


Camilla nasceu em Curitiba, mas cresceu em Cuiabá. Depois morou em Goiânia, Manaus, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Uma coisa não dá para negar, ela conhece muito ‘in loco’ da culinária brasileira.
Como a maioria das mulheres que vem para China, a mudança foi para acompanhar o marido expatriado pela empresa em que trabalha (e que já havia proporcionado tantas outras mudanças dentro do Brasil).
Aceitar ou não o desafio de se reinventar é uma decisão pessoal, mas que ela mostra não ser impossível. Mesmo num lugar de cultura e hábitos tão diferentes dos nossos, há espaço para determinação e empreendedorismo.
Como foi sua trajetória profissional?
Após 2 anos sem trabalhar devido a maternidade, estava prestes a voltar ao mercado numa grande Instituição financeira em São Paulo. Minha formação inicial é de Administração de Empresas com especialização em Gestão de Varejo e Planejamento Estratégico.
Foi quando meu marido chegou em casa e disse: ‘Acho que vamos nos mudar novamente!’. Era a quinta mudança em seis anos!
Não podia acreditar… acho que eu fui um dos poucos casos de pedido de demissão antes do primeiro dia de trabalho! E lá fomos nós para o Rio de Janeiro.
Eu refletia muito sobre o futuro, família e maternidade e tinha certeza que aquele modelo de trabalho corporativo de metas e viagens não se aplicava mais a minha vida. Meu momento era outro, tinha que me reinventar e assim, resolvi como muitos da minha geração “chutar o balde” e embarquei no maravilhoso mundo da gastronomia.
Voltei a estudar, me formei Chef de Cozinha e Sommelier de Cerveja pelo Senac Rio e Doemens Academy da Alemanha. Além de ser Cervejeira Artesanal pela Acerva Carioca. Trabalhei muito!
No Rio de Janeiro, fui sócia da Gourmetmania, empresa especializada em aulas de gastronomia e eventos para crianças e também no Senac, onde atuei como instrutora, coordenadora e especialista em Gastronomia.
Foram anos desenvolvendo cursos de capacitação profissional nas áreas de Gestão, Bebidas e Serviços, além do planejamento e atuação em grandes festivais gastronômicos, como Rio Gastronomia, Fashion Business e outros.
E como você chegou na China?
Em setembro de 2013, meu marido recebeu um email da empresa em que trabalha, com o título: Você gosta de comida chinesa?
A empresa estava sondando qual a possibilidade dele aceitar uma posição na China.
Minha resposta imediata foi: ‘Você está louco, China? Shanghai? O Idioma? A comida?’.
Pra mim a ideia de morar na China era assustadora, como viver sem feijão, carne, mandioca ou goiabada?
Bem, recebemos a proposta oficial em dezembro de 2013 e no final de fevereiro de 2014,  já estávamos morando em Shanghai (para ver se gostávamos da comida chinesa de fato).
Deixei a Cidade Maravilhosa, amigos, família e o trabalho que tanto amava.
Foi difícil, mas o tempo foi passando e a curiosidade sobre a cultura, a gastronomia e o idioma me faziam dedicar horas do meu dia na busca, e aprendizado, dos ingredientes locais ou importados para a produção de pratos da cozinha brasileira, que é meu foco sempre.
Em três meses, já possuía uma lista de fornecedores para comprar insumos e começar a trabalhar. Já sabia onde encontrar mandioca, polvilho, caqui, quiabo, feijão, goiabada, maracujá, carne, queijos, suco de cajú, açaí, requeijão…
Enfim naquele momento não havia mais desculpas em relação ao material, ingredientes. Faltava coragem.
Estava insegura em começar a trabalhar falando somente o básico em mandarim e ciente que o maior desafio seria encontrar profissionais como garçons ou auxiliares de cozinha que falassem inglês. Mas essa era a desculpa perfeita para ficar numa inquietante ‘zona de conforto’.
No meio disso tudo, conversando, trocando ideias e expectativas com a Mariana Teixeira, uma amiga que mora em Shanghai há muitos anos, e que vivia os mesmos dilemas de um recomeço profissional, nasceu a 8Gourmet.
Hoje, como sócias, oferecemos aulas de gastronomia para crianças e adultos, além da realização de festas e eventos com ‘comidinhas’ brasileiras.
Um dos maiores objetivos da 8Gourmet é divulgar a cozinha brasileira na China, desmistificando aquela coisa de que brasileiro só come arroz e feijão ou churrasco.
E como ficam seus projetos para o futuro?
8Gourmet é meu projeto atual, pois aqui estou e preciso continuar minha trajetória na gastronomia. E esse é o caminho hoje. Daqui um ano, dois… não sei.
Mas para preservar todas essas experiências, desafios, conquistas diárias da minha vida meio ‘cigana’, comecei a escrever um livro que retrata memórias gastronômicas  vividas nas cidades em que morei. Nele conto sobre as comidas e os ingredientes regionais, além de histórias e experiências pessoais.
Resumindo, será um livro de receitas brasileiras com impressões pessoais, o meu olhar sobre cada local que passei…
E seu recado?
Acreditem que é possível recomeçar e se reinventar em qualquer parte do mundo, basta coragem, dedicação e muita paixão pelo que se faz.
As vezes estamos tão apegados ao passado ou aos problemas do dia a dia, que não nos permitimos viver novas experiências na vida. Arrisque, mude de cidade, recomece, reinvente, faça seu prato favorito de uma maneira diferente.
A vida será muito mais prazerosa e divertida!
Essa entrevista foi publicada originalmente no ‘Brasileiras pelo Mundo‘.

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