domingo, 28 de setembro de 2014

Viver na China e ser feliz. Isso é possível?



Para mim a resposta é um enorme, imenso, gigantesco SIM! E ‘superlativos’ é uma coisa que aprendemos a usar no dia a dia aqui na China, pois aqui nada é grande – é enorme. Nenhum lugar é cheio – é lotado. Só para vocês entenderem o porquê de eu ter colocado tantos antes do meu sim! 
Mas, logo em seguida, completo com outra pergunta: é fácil? Respondo sem hesitar: Não!
Já sabemos que toda a mudança gera uma série de desconfortos, seja de país ou de cidade. E seja lá para onde for.  Sempre teremos que nos acostumar com os costumes e regras locais, com os códigos sociais, com os horários e as ‘manias’ de cada povo. Mas vamos combinar que alguns países superam qualquer capacidade de adaptação. A Índia, Emirados Árabes, e a maioria dos países da Ásia, só para citar alguns.



No caso Ásia, a China é o vilão! Tailândia, Filipinas são considerados paraísos na terra, e todos veem o lado romântico de viver numa praia paradisíaca e quase que impossível de se visitar para a maioria das pessoas. Cingapura e Japão são os exemplos de organização, civilidade e desenvolvimento. E a China… bem, a China é o local que ficou fechado para o mundo por décadas, que as pessoas comem escorpião, ovo podre e cachorro. Que se cospe no chão, arrota na mesa e falam uma língua completamente maluca cheia de tons e sons.
Tudo isso é verdade? Sim, é verdade. Mas viver na Tailândia não é sol e mar o dia todo, todo dia; e o Japão tem lá seus problemas sociais e de excesso de organização também. Só que isso não sai nos jornais. Já a China, possui uma culinária exótica, mas também deliciosa. Você escolhe o que comer e se quer comer essas coisas esquisitas. O povo cospe no chão sim, mas isso vem de séculos, e é explicado através da cultura milenar. Para eles esquisitos somos nós que saímos abraçando e beijando todo mundo que encontramos no caminho. Mas isso também não sai nos jornais.
Então, só posso dizer que tudo vai depender de cada um, simples assim. Ser feliz é uma opção pessoal, é a capacidade de lidar com os desafios da sua vida e viver cada dia plenamente. É superar seus problemas diários, é buscar soluções e enfrentar os desafios. É, depois de um dia cheio de estresse, poder dizer: consegui chegar até aqui, amanhã tem mais. Sinceramente, para mim felicidade plena não existe. Então vamos saborear os momentos especiais do nosso dia, mesmo que seja no meio do caos.



Ser feliz na China ou em qualquer outro local do mundo (incluindo o Brasil, a cidade onde nascemos) é possível desde que se decida que ‘isso é possível’. E esse processo de aceitação, essa decisão de ser feliz, começa no momento que se decide aceitar o desafio e se bate o martelo: eu vou!
O cheiro é esquisito, a lógica deles é completamente ‘no sense’ para nós, no inicio não entendemos uma palavra do que dizem, e os códigos sociais são de deixar todos de cabelo em pé. Mas por outro lado, meus filhos adolescentes saem para balada e eu durmo. Saímos na rua de madrugada e não temos medo de ser mortos, assaltados, agredidos.  As crianças crescem falando no mínimo 3 idiomas fluentemente. Hoje tenho amigos no mundo inteiro e se você está lendo esse artigo, foi porque decidi fazer da minha vida aqui ser a melhor possível.
O meu lema é sempre colocar na balança as perdas e os ganhos. E para minha família os ganhos foram sempre maiores, mais valiosos, é o famoso ‘depois que passa a gente ri’, é o olhar para trás e ver quantos desafios superamos, quantas coisas aprendemos. E nunca esquecer que o Brasil, apesar de ser meu país e que eu amo e tenho saudades, não é nenhuma Suíça. E muitas coisas que vejo aqui, nas devidas proporções, já vi por lá também.



O primeiro ano foi horrível do ponto de vista emocional. Mas em qualquer lugar é assim ! 
Portanto se chegou até aqui para saber se é possível viver na China, digo que sim. Se for Shanghai, não tem nem o que questionar. Outras cidades são um pouco mais complicadas na questão de costumes e facilidade de encontrar produtos internacionais, mas não impossível. Tem muito brasileiro espalhado pela China, vivendo muito bem, obrigada! 
Minha única recomendação: venham de coração aberto ao novo, ao diferente e consciente das dificuldades que vão surgir. Encarem como uma oportunidade de crescimento pessoal, de aprendizado e não como uma penitencia. E procurem, assim que possível, VIVER aqui. Algumas pessoas encaram a China com um ‘gap’ na vida, e tudo irá acontecer quando voltar ao Brasil. Mas a vida não para, nunca.



Para terminar, deixo uma frase de Fernando Pessoa que foi meu ‘mantra’ quando saí do país. Inclusive fiz um imenso adesivo de parede e colei na frente da minha escrivaninha:
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos.”
Até a próxima!
Esse artigo foi publicado originalmente no blog Brasileiras Pelo Mundo.

domingo, 21 de setembro de 2014

No outro lado do mundo !



Minha primeira ligação com a China foi em 2011 quando comecei a estudar Mandarim pelo Instituto Confúcio na Unesp, no campus de Marília. Desde a infância tive interesse na cultura oriental, mais a cultura japonesa, e iniciei o curso de Mandarim pensando ser parecido com o Japonês e que as duas culturas eram bem semelhantes, mas me enganei. Fiquei encantada com a riqueza da cultura chinesa e do idioma.



Em junho de 2012 tive a oportunidade de ir para a China em um Curso de Verão, organizado pelo Instituto Confúcio na Unesp, com mais 21 colegas do curso de Mandarim. Ficamos 25 dias na China, na Universidade de Hubei, em Wuhan, e em Beijing. Tínhamos aulas de idioma, de história, cultura, dança, música, culinária e fazíamos passeios culturais e para compras.



Uma das coisas mais impressionantes que percebi ao chegar em Wuhan foi a grande quantidade de construções de edifícios destinados a habitação, isso só no trecho Aeroporto-Universidade. Prédios enormes (altura e largura) sendo construídos, ou na fase final de acabamento com números de telefone para a venda, e quanto mais nº 8 no telefone, melhor! (Nº 8 na China é um número de sorte). Os prédios da Universidade de Hubei também eram imensos e muito bonitos, se comparados aos prédios da maioria das universidades públicas brasileiras.


A sensação térmica estava sempre em 40º ou mais, já que estávamos no verão, mas a maioria dos lugares fechados tinha ar-condicionado que melhorava um pouco a situação. Os chineses foram muito receptivos com o nosso grupo, destoando totalmente do que eu esperava e que alguns colegas haviam contado. Sempre dispostos a ajudar e com um sorriso ao ver que você era estrangeiro (o que é bem fácil...). Se você demonstrava interesse pela cultura, ou algum conhecimento do idioma, os sorrisos se abriam ainda mais!


Muitos colegas tiveram problemas com a comida, para se adaptarem aos sabores, temperos e modo de preparo (em geral utilizam bastante óleo de gergelim/amendoim). Eu, ao contrário, me adaptei muito rápido, e engordei 5kg durante os 25 dias, já que comia sem parar e achava tudo uma delícia.


Nossos passeios eram quase todos programados e íamos com o ônibus do curso, mas de vez em quando tínhamos tempo pra sair sem o grupo todo e nos aventurávamos pegando taxi por Wuhan ou Beijing (poucos taxistas falavam inglês). Os lugares que mais gostei de visitar foram o zoológico, a Yellow Crane Tower (Huang He Lou), o Festival do Barco do Dragão, e o Museu de Hubei, em Wuhan; a hidrelétrica Três Gargantas, o Rio Yangtse, e a Floresta de Pedra, na província de Hubei; a Muralha, a Cidade Proibida, o Palácio de Verão e o Templo do Céu, em Beijing.



Fiquei encantada pela China e não poderia existir experiência melhor! Desde 2012 quero voltar para lá conhecer mais lugares, pessoas, e estudar mais o idioma e a cultura chinesa. 



Para quem tem interesse de ir, a passeio, trabalho, ou estudos, o essencial é se despir de todos os pré-conceitos e estereótipos, porque vivenciar a China é diferente de tudo que se possa imaginar. No meu caso, foi muito melhor de tudo que eu imaginei quando pensei: “Vou para a China”. Espero que todas experiências possam ser parecidas com a que tive nesse país.


Relato concedido por Ingrid Torquato, graduanda de Relações Internacionais na UNESP.

domingo, 14 de setembro de 2014

Um ano de vida na China !



Se existe alguma mensagem que gosto de transmitir aos outros com a minha experiência, é que emigrar para o outro lado do mundo, hoje em dia, não é algo de extraordinário ou particularmente especial. Não é preciso grande coragem nem ser muito destemido. Não é difícil nem um bicho de sete cabeças. É apenas preciso querer, e fazer! E a recompensa, essa sim pode ser extraordinária e riquíssima.

Não me identifico com aqueles discursos tipicamente portugueses da saudade, do sacrifício, do romantismo depressivo, do ultra-sensacionalismo de emoções de "quem vai para fora e deixa os seus próximos tão longe" e o quanto isso custa e todo esse tipo de sopas de caldo verde sem sal e mal temperadas. Esteja onde estiver no Mundo estou sempre próximo de quem me é querido, e a vida segue com naturalidade.





Em 12 meses atingi os meus objetivos. Nunca tinha delineado um plano com objetivos nem nada de muito especifico, mas se entendermos necessidades de sobrevivência e conforto básicos como objetivos, então o meu primeiro ano foi um sucesso absoluto. Trabalho, casa, estatuto legal como trabalhador residente no país e independência econômica.

A parte mais impressionante deste meu resumido currículo de vida na China é a obtenção do visto de trabalho (Z Visa) e autorização de residência, perceba-se. Não foi muito complicado para mim obter estes documentos, porque tive uma boa plataforma de apoio tanto a nível da companhia para que trabalho, como por parte da minha família. Mas trabalhar legalmente na China é de facto um bicho de sete cabeças para muita gente, e não deve ser menosprezado o feito de conseguir ultrapassar esse obstáculo.





Quanto ao resto, depende de cada um. Pessoalmente cultivo uma atitude de calma ponderação e contemplação para atuar e decidir o que fazer a seguir, misturada com uma postura de ação repentina e impulsiva quando calha. Não faço planos.

É uma atitude que poderá ser confundida com preguiça, procrastinação e irresponsabilidade (como algumas pessoas por vezes não hesitam em me dizer), mas acredito genuinamente que é sensato não só ponderar sobre as opções que temos e que podemos influenciar diretamente, assim como observar/esperar pelo que pode acontecer à nossa volta ao acaso. Ali no meio é onde as minhas decisões costumam acontecer e se concretizam, sem stresses de preferência. E desafio qualquer pessoa que se diz muito organizada e que planeia exaustivamente o seu futuro a mostrar-me o seu plano de há um ano atrás e como tudo correu tal como previa até agora. Basicamente, acredito que fazer planos acaba por ser irrealista, algo arrogante, inconsequente, imaturo até, e, em certa medida, irresponsável.





Todo este ultimo parágrafo para explicar aquela que é a minha resposta para quase todas as ocasiões em que alguém me pergunta algo como "então como é que isso aconteceu? Como chegaste aí?": Calhou. Como consegui o meu emprego? Calhou. Fui a uma série de entrevistas, e calhou este. Como consegui o lugar onde vivo? Calhou. Percorri alguns anúncios online, fui visitar e escolhi um.

Como e por que decidi vir para a China? Bem, não diria que calhou, mas aconteceu tudo muito depressa. No fundo, calhou: surgiu-me a ideia por volta da hora de almoço de um dia qualquer (lembro-me por acaso), pensei no assunto, e decidi que o iria fazer. A partir daí fiz uma série de telefonemas e contatos para assegurar umas certas bases futuras, "arrumei a casa" (comecei a tratar de tudo para dispensar a casa em que vivia e todos os bens que possuía e já não queria), e tratei de arranjar a passagem. Entre o tempo da decisão e da viagem, terá passado cerca de um mês. A mudança apenas não foi mais rápida porque pelo meio ainda me surgiu um trabalho de 15 dias que me garantiu de forma muito conveniente algum dinheiro extra para ajudar. Ou seja, calhou e caiu do céu esse ultimo impulso financeiro que tanto jeito me deu. Finito esse tal trabalho, já tinha a viagem marcada e rumei em direção ao nascer do Sol. Nem sequer levava um visto no meu passaporte. Tinha me informado que o poderia obter em Hong-Kong num prazo de horas, e portanto aí chegado tratei do visto para no dia seguinte rumar ao meu destino final: Shenzhen, já na China continental. Fácil e sem complicações.





Ou seja, não existe uma história ou mensagem inspiradora e dramática por trás da minha mudança. Não é um ato de impressionante coragem carregado de mágoas e sacrifícios. É apenas, tal como tantas outras coisas na vida, uma decisão, seguida da ação que a concretizou. E esta é essencialmente a lei que dita a lógica da vida.

PS: A China é um país que acolhe bem. Deveria ter começado por isto talvez. Com a mentalidade e disposição adequadas, vive-se muito bem neste país. Em geral recomendo fortemente que se visite e/ou viva neste país, mas ao mesmo tempo custa-me muito recomendar a alguém em particular. É daquelas coisas...não é para todos, mas recomenda-se a toda a gente.

Relato concedido por Daniel Camilo. 

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Fim de semana no templo Shaolin !




Como cada fim de semana, fui na Estação Sur de Beijing para pegar um trem e descobrir uma nova região deste pais maravilhoso. Os trens na china, tem em geral, na segunda classe, pequenos quartos com 6 camas (3 ao lado esquerdo, organizados uma em cima da outra, igualmente do lado direito) e antes de dormir, todos se sentam nas duas camas de baixo e falam, comem, bebem, há uma confraternização. Eu estava com uma amiga, e começamos a conversar (com nosso pequeno nível de mandarim) com as outras pessoas, foi bem legal! 

A surpresa para eles foi muito grande! Chamaram todos que estavam no trem, e em 3 minutos, havia 30 pessoas ao nosso redor perguntando e gritando "falam mandarim de verdade ???"(risos) Alguns, até foram para pegar cervejas para nós, em símbolo de amizade!

Os chineses são realmente abertos e curiosos! Uma vez que a barreira do idioma foi ultrapassada, é incrível o que pode acontecer...

Depois de dormir umas horas, nas camas de cima (as mais quentes e então as mais baratas), chegamos no destino. Pegamos um ônibus e chegamos no paraíso do KungFu: 少林寺 !Não havia muitos turistas estrangeiros, mas havia um montão de chineses.

Estando lá, fomos ver uma aula de kungfu para jovens de 15 anos. Era incrível ver a velocidade do movimento das armas tipo sabres, o munchaku! Uns também quebravam blocos de concreto (o impressionante), com suas mãos... Depois, fomos ver um show de meninos de 5 a 8 anos, fazendo uma mistura de ginástica, artes marciais, e exercício de equilibro: Tipo de Caipora China. Muito impressionante!

De noite, fomos ver um outro show incrível, num templo de adultos que imitavam os bichos sagrados do kungfu (o tigre, o louva-a-deus, o macaco, a serpente, a garça e o panda).

Outra boa memória desse viagem, foi a aula de kungfu que recebemos. A aula aconteceu em cima de um morro perto da cidade com um jovem cozinheiro que estava apaixonado pelo kungfu. Ele conseguiu um trabalho como cozinheiro para se sustentar e ao mesmo tempo, praticar seu esporte: Praticava 6 horas por dia, estava com um corpo muito bom!

Não vou contar os detalhes dessa aula, a vergonha foi muita grande! Depois de 1 minuto, entendi que esse esporte não era para mim... Estou rígida como uma escova, e para fazer qualquer coisa, você tenho que me torcer...

Realmente, foi um fim de semana muito legal! Todos deveriam ir conhecer o templo. Ele é único!

Relato concedido por Fanny.