domingo, 14 de setembro de 2014

Um ano de vida na China !



Se existe alguma mensagem que gosto de transmitir aos outros com a minha experiência, é que emigrar para o outro lado do mundo, hoje em dia, não é algo de extraordinário ou particularmente especial. Não é preciso grande coragem nem ser muito destemido. Não é difícil nem um bicho de sete cabeças. É apenas preciso querer, e fazer! E a recompensa, essa sim pode ser extraordinária e riquíssima.

Não me identifico com aqueles discursos tipicamente portugueses da saudade, do sacrifício, do romantismo depressivo, do ultra-sensacionalismo de emoções de "quem vai para fora e deixa os seus próximos tão longe" e o quanto isso custa e todo esse tipo de sopas de caldo verde sem sal e mal temperadas. Esteja onde estiver no Mundo estou sempre próximo de quem me é querido, e a vida segue com naturalidade.





Em 12 meses atingi os meus objetivos. Nunca tinha delineado um plano com objetivos nem nada de muito especifico, mas se entendermos necessidades de sobrevivência e conforto básicos como objetivos, então o meu primeiro ano foi um sucesso absoluto. Trabalho, casa, estatuto legal como trabalhador residente no país e independência econômica.

A parte mais impressionante deste meu resumido currículo de vida na China é a obtenção do visto de trabalho (Z Visa) e autorização de residência, perceba-se. Não foi muito complicado para mim obter estes documentos, porque tive uma boa plataforma de apoio tanto a nível da companhia para que trabalho, como por parte da minha família. Mas trabalhar legalmente na China é de facto um bicho de sete cabeças para muita gente, e não deve ser menosprezado o feito de conseguir ultrapassar esse obstáculo.





Quanto ao resto, depende de cada um. Pessoalmente cultivo uma atitude de calma ponderação e contemplação para atuar e decidir o que fazer a seguir, misturada com uma postura de ação repentina e impulsiva quando calha. Não faço planos.

É uma atitude que poderá ser confundida com preguiça, procrastinação e irresponsabilidade (como algumas pessoas por vezes não hesitam em me dizer), mas acredito genuinamente que é sensato não só ponderar sobre as opções que temos e que podemos influenciar diretamente, assim como observar/esperar pelo que pode acontecer à nossa volta ao acaso. Ali no meio é onde as minhas decisões costumam acontecer e se concretizam, sem stresses de preferência. E desafio qualquer pessoa que se diz muito organizada e que planeia exaustivamente o seu futuro a mostrar-me o seu plano de há um ano atrás e como tudo correu tal como previa até agora. Basicamente, acredito que fazer planos acaba por ser irrealista, algo arrogante, inconsequente, imaturo até, e, em certa medida, irresponsável.





Todo este ultimo parágrafo para explicar aquela que é a minha resposta para quase todas as ocasiões em que alguém me pergunta algo como "então como é que isso aconteceu? Como chegaste aí?": Calhou. Como consegui o meu emprego? Calhou. Fui a uma série de entrevistas, e calhou este. Como consegui o lugar onde vivo? Calhou. Percorri alguns anúncios online, fui visitar e escolhi um.

Como e por que decidi vir para a China? Bem, não diria que calhou, mas aconteceu tudo muito depressa. No fundo, calhou: surgiu-me a ideia por volta da hora de almoço de um dia qualquer (lembro-me por acaso), pensei no assunto, e decidi que o iria fazer. A partir daí fiz uma série de telefonemas e contatos para assegurar umas certas bases futuras, "arrumei a casa" (comecei a tratar de tudo para dispensar a casa em que vivia e todos os bens que possuía e já não queria), e tratei de arranjar a passagem. Entre o tempo da decisão e da viagem, terá passado cerca de um mês. A mudança apenas não foi mais rápida porque pelo meio ainda me surgiu um trabalho de 15 dias que me garantiu de forma muito conveniente algum dinheiro extra para ajudar. Ou seja, calhou e caiu do céu esse ultimo impulso financeiro que tanto jeito me deu. Finito esse tal trabalho, já tinha a viagem marcada e rumei em direção ao nascer do Sol. Nem sequer levava um visto no meu passaporte. Tinha me informado que o poderia obter em Hong-Kong num prazo de horas, e portanto aí chegado tratei do visto para no dia seguinte rumar ao meu destino final: Shenzhen, já na China continental. Fácil e sem complicações.





Ou seja, não existe uma história ou mensagem inspiradora e dramática por trás da minha mudança. Não é um ato de impressionante coragem carregado de mágoas e sacrifícios. É apenas, tal como tantas outras coisas na vida, uma decisão, seguida da ação que a concretizou. E esta é essencialmente a lei que dita a lógica da vida.

PS: A China é um país que acolhe bem. Deveria ter começado por isto talvez. Com a mentalidade e disposição adequadas, vive-se muito bem neste país. Em geral recomendo fortemente que se visite e/ou viva neste país, mas ao mesmo tempo custa-me muito recomendar a alguém em particular. É daquelas coisas...não é para todos, mas recomenda-se a toda a gente.

Relato concedido por Daniel Camilo. 

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