Para mim a resposta é um enorme, imenso, gigantesco SIM! E ‘superlativos’ é uma coisa que aprendemos a usar no dia a dia aqui na China, pois aqui nada é grande – é enorme. Nenhum lugar é cheio – é lotado. Só para vocês entenderem o porquê de eu ter colocado tantos antes do meu sim!
Mas, logo em seguida, completo com outra pergunta: é fácil? Respondo sem hesitar: Não!
Já sabemos que toda a mudança gera uma série de desconfortos, seja de país ou de cidade. E seja lá para onde for. Sempre teremos que nos acostumar com os costumes e regras locais, com os códigos sociais, com os horários e as ‘manias’ de cada povo. Mas vamos combinar que alguns países superam qualquer capacidade de adaptação. A Índia, Emirados Árabes, e a maioria dos países da Ásia, só para citar alguns.
No caso Ásia, a China é o vilão! Tailândia, Filipinas são considerados paraísos na terra, e todos veem o lado romântico de viver numa praia paradisíaca e quase que impossível de se visitar para a maioria das pessoas. Cingapura e Japão são os exemplos de organização, civilidade e desenvolvimento. E a China… bem, a China é o local que ficou fechado para o mundo por décadas, que as pessoas comem escorpião, ovo podre e cachorro. Que se cospe no chão, arrota na mesa e falam uma língua completamente maluca cheia de tons e sons.
Tudo isso é verdade? Sim, é verdade. Mas viver na Tailândia não é sol e mar o dia todo, todo dia; e o Japão tem lá seus problemas sociais e de excesso de organização também. Só que isso não sai nos jornais. Já a China, possui uma culinária exótica, mas também deliciosa. Você escolhe o que comer e se quer comer essas coisas esquisitas. O povo cospe no chão sim, mas isso vem de séculos, e é explicado através da cultura milenar. Para eles esquisitos somos nós que saímos abraçando e beijando todo mundo que encontramos no caminho. Mas isso também não sai nos jornais.
Então, só posso dizer que tudo vai depender de cada um, simples assim. Ser feliz é uma opção pessoal, é a capacidade de lidar com os desafios da sua vida e viver cada dia plenamente. É superar seus problemas diários, é buscar soluções e enfrentar os desafios. É, depois de um dia cheio de estresse, poder dizer: consegui chegar até aqui, amanhã tem mais. Sinceramente, para mim felicidade plena não existe. Então vamos saborear os momentos especiais do nosso dia, mesmo que seja no meio do caos.
Ser feliz na China ou em qualquer outro local do mundo (incluindo o Brasil, a cidade onde nascemos) é possível desde que se decida que ‘isso é possível’. E esse processo de aceitação, essa decisão de ser feliz, começa no momento que se decide aceitar o desafio e se bate o martelo: eu vou!
O cheiro é esquisito, a lógica deles é completamente ‘no sense’ para nós, no inicio não entendemos uma palavra do que dizem, e os códigos sociais são de deixar todos de cabelo em pé. Mas por outro lado, meus filhos adolescentes saem para balada e eu durmo. Saímos na rua de madrugada e não temos medo de ser mortos, assaltados, agredidos. As crianças crescem falando no mínimo 3 idiomas fluentemente. Hoje tenho amigos no mundo inteiro e se você está lendo esse artigo, foi porque decidi fazer da minha vida aqui ser a melhor possível.
O meu lema é sempre colocar na balança as perdas e os ganhos. E para minha família os ganhos foram sempre maiores, mais valiosos, é o famoso ‘depois que passa a gente ri’, é o olhar para trás e ver quantos desafios superamos, quantas coisas aprendemos. E nunca esquecer que o Brasil, apesar de ser meu país e que eu amo e tenho saudades, não é nenhuma Suíça. E muitas coisas que vejo aqui, nas devidas proporções, já vi por lá também.
O primeiro ano foi horrível do ponto de vista emocional. Mas em qualquer lugar é assim !
Portanto se chegou até aqui para saber se é possível viver na China, digo que sim. Se for Shanghai, não tem nem o que questionar. Outras cidades são um pouco mais complicadas na questão de costumes e facilidade de encontrar produtos internacionais, mas não impossível. Tem muito brasileiro espalhado pela China, vivendo muito bem, obrigada!
Minha única recomendação: venham de coração aberto ao novo, ao diferente e consciente das dificuldades que vão surgir. Encarem como uma oportunidade de crescimento pessoal, de aprendizado e não como uma penitencia. E procurem, assim que possível, VIVER aqui. Algumas pessoas encaram a China com um ‘gap’ na vida, e tudo irá acontecer quando voltar ao Brasil. Mas a vida não para, nunca.
Para terminar, deixo uma frase de Fernando Pessoa que foi meu ‘mantra’ quando saí do país. Inclusive fiz um imenso adesivo de parede e colei na frente da minha escrivaninha:
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos.”
Até a próxima!
Esse artigo foi publicado originalmente no blog Brasileiras Pelo Mundo.