Bárbara em Zhangjiajie, as montanhas que inspiraram as montanhas voadoras do filme Avatar |
Minha
história com a China começa quando eu consegui uma bolsa para fazer aulas de
mandarim no Instituto Confúcio em São Paulo. Eu tinha 16 anos e ainda não fazia
ideia da carreira que queria seguir, e nem o motivo de estudar chinês (confesso
que minha mãe teve que insistir bastante pra eu aproveitar essa oportunidade).
E foi na primeira aula, mesmo com aquele susto com as diversas entonações que
existe na linguagem chinesa, que eu comecei a me interessar de verdade.
Quatro
anos depois desse meu primeiro contato com a língua, eu tive a oportunidade e,
outro fator muito importante, a coragem, de tentar uma bolsa de estudos para
estudar chinês por 5 meses na China e em fevereiro de 2013 eu fui. Foi a
primeira vez que eu sai do país e eu fui direto para Wuhan, a cidade onde fica
a universidade de Hubei. O primeiro choque foi chegar sozinha numa cidade na
qual as pessoas não falam inglês, e mesmo depois de anos de estudo, meu conhecimento
de chinês ainda era pobre. Com muita dificuldade e com a ajuda dos cartõezinhos que eu tinha com o nome da
universidade e o endereço escrito em caracteres eu consegui chegar na
universidade e conheci as pessoas com quem eu passaria os próximos meses.
Eu
morei num hotel dentro da faculdade, onde só tinha quarto e banheiro, e dividia
o quarto com outro intercambista. Pra nós brasileiros isso pode parecer pouco,
mas os intercambistas tinham vida de rei comparado aos estudantes chineses.
Eles moravam em moradias estudantis, dividindo o quarto entre 6 pessoas, tinham
banheiro coletivo por andar, o qual tinha uns 20 quartos, e sem água quente.
Eles não tinham cozinha e depois das 23h30 os portões da moradia fechavam,
ninguém entrava e ninguém saia. Mas eles nunca reclamavam, gostavam bastante da
vida universitária deles, que se resumia em praticar algum esporte, (as muitas
quadras e mesas de tênis de mesa e badminton que tinham no campus estavam
sempre lotadas) e estudar, em qualquer
lugar que fosse, na biblioteca super bem estruturada de 10 andares ou em
qualquer graminha aconchegante debaixo de uma árvore.
Sobre
os chineses, embora muitos passem uma impressão ruim de má educação, eu guardei
um grande apreço por eles. É realmente muito difícil de acostumar com as ‘‘catarradas’’nada
discretas, com os empurrões e as pessoas passando na sua frente na fila, mas eu
e meus amigos costumávamos almoçar ou jantar dentro da faculdade, no mesmo
lugar que os estudantes chineses. Os donos das barracas eram sempre muito
simpáticos e ficavam muito felizes quando decidíamos por comprar nosso almoço
com eles. E depois de um tempo, acabamos nos tornando um
pouco chineses, era mais fácil ser um pouco como eles e furar fila também, do
que nunca ser atendido!
Duas
coisas que as pessoas sempre me perguntam são se eu já falo fluentemente e se
eu comi cachorro. Para as duas perguntas eu respondo que não. Não falo
fluentemente, pois, infelizmente, o vasto vocabulário a ser aprendido e as
regras gramaticais, que na maioria das vezes não faz sentido nenhum para nós, tornam
o aprendizado da língua muito difícil. A língua chinesa, inclusive os
caracteres, tem muita relação com a cultura milenar, e por isso não basta
somente aulas de linguagem, mas também aulas sobre a cultura. E eu também não
comi cachorro, não é tão comum como as pessoas pensam. Em Beijing, num lugar
muito específico que chama Wanfujing, tem uma feira na qual vende escorpião,
cavalo marinho, bicho da seda, aranha, cobra, gafanhoto, rã e talvez mais
algumas especiarias para comer, mas são lugares muito específicos, e não em
qualquer esquina.
É
muito difícil resumir uma experiência assim num país tão diferente. São muitas
viagens de aperto nos trens lentos chineses, viagens confortáveis nos
trens-bala, muitas tentativas de ser entendida por meio da mímica, muitas
alegrias ao ser entendido utilizando a fala, orgulho a cada caractere novo
reconhecido na rua, caras e bocas a cada comida nova experimentada, e um
sentimento de querer voltar pra experimentar tudo de novo e um pouco mais da
imensidão que é a cultura e o território chinês.
Por Bárbara Laplaca, graduanda de Relações Internacionais - UNESP Marília.
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